30.9.12

Jerichow
Título original: Jerichow
De: Christian Petzold
Com: Benno Fürmann, Nina Hoss, Hilmi Sözer
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: ALE, 2008, Cores, 93 min.



"No final dos anos 90 — volta a recordar-se a história — o cinema alemão renasceu das cinzas após aquela que foi a década mais fútil, comercial e desinteressante da sua história. Para isso muito contribuiu a então denominada “Escola de Berlim”, lançada por uma fornada de jovens cineastas dispostos a voltar a colocar a Alemanha nos festivais internacionais e da qual Christian Petzold (n. 1960) faz parte, desde a sua ótima estreia (“The State I Am In”, de 2000). Centremo-nos sem demoras nas qualidades do cineasta: diálogos cirúrgicos, enquadramentos rigorosos, também o modo como ele consegue fazer ecoar coisas íntimas (o desejo, a angústia, o ciúme, o sentimento de culpa) numa realidade contemporânea que tende a esmagar as personagens (realidade essa que se confunde, no cinema de Petzold, com a nova Alemanha pós-queda do Muro de Berlim). No coerente percurso do cineasta, após três filmes de grande nível (“Wolfsburg”, “Genspenster” e “Yella”, este último estreado entre nós), surge “Jerichow” (2008), que agora chega às salas já com algum atraso, quatro anos após ter competido pelo Leão de Ouro em Veneza."
"O mundo observado por Petzold está ameaçado pelo vazio emocional e são desenraizadas as personagens que o habitam. Nesse mundo, que o cineasta tende a observar de forma glacial e hitchcockiana, surgem com frequência personagens que já trazem traumas e fantasmas anteriores ao arranque da ação. Thomas (Benno Fürmann), protagonista de “Jerichow”, é uma dessas personagens. Ex-militar no Afeganistão, ele regressa, ao saber da morte da mãe, à pequena cidade natal da ex-Alemanha de Leste que dá título ao filme. Crivado de dívidas numa zona do país, Petzold em que escasseia o emprego, conhece acidentalmente um empresário turco da área da restauração, Ali (Hilmi Sözer), que lhe oferece trabalho como motorista, bem como a mulher de Ali, Laura (mais um notável papel da atriz habitual de Petzold, Nina Hoss), por quem Thomas se sente atraído."
"A alavanca do filme é aquela atração. Para a mulher infeliz e o novo empregado do marido, agora unidos pelo adultério, o crime é tentação inevitável — “Jerichow”, afinal, é um remake subtil e inteligente de “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes”, novela de James M. Cain várias vezes levada ao cinema. Contudo, o que mais nos impressionou não foi a visita sóbria, competente, ao drama clássico do film noir. Antes a sua atualização no retrato humano e sociológico de um território nada óbvio nos dias que correm: o de uma Alemanha humanamente desolada e economicamente arruinada." Francisco Ferreira, Expresso de 15/09/2012