25.9.12

Para Roma com Amor
Título original: To Rome with Love
De: Woody Allen
Com: Woody Allen, Penélope Cruz, Jesse Eisenberg, Roberto Benigni, Judy Davis, Ornella Muti, Alec Baldwin
Género: Comédia, Romance
Classificação: M/12
Outros dados: ESP/ITA/EUA, 2012, Cores, 112 min.


"Primeiro foi Manhattan — anos e anos a fio. Depois Woody Allen derivou para Inglaterra e, nos últimos tempos, parece decidido a um périplo por lugares que fazem parte da memória coletiva mesmo de quem nunca lá foi: Barcelona (“Vicky Cristina Barcelona”, 2008), Paris (“Meia-Noite em Paris”, 2011), Roma agora (“Para Roma, com Amor”, 2012). E não falta quem o acuse de cedência aos interesses turísticos que viabilizaram meios para que os filmes se fizessem, não falta quem fale em “bilhetes postais”, não falta quem desvalorize uma obra que, tenho muita pena, me parece magistralmente orquestrada. Até percebo que se fale em “bilhetes postais” porque, de facto, o que Woody Allen faz é um voo suave sobre lugares-comuns, dando a volta à aproximação mais óbvia. É que, quando um filme começa descendo sobre Roma ao som de ‘Volare’ o que vejo é um cliché tão escarrapachado na minha frente que só pode lá estar em gesto de ironia."
"E uma vez percebido em que clave se escreve “Para Roma, com Amor”, nunca mais é possível deixar de o entender na consonância com o que diz a letra da canção (“una musica dolce suonava soltanto per me”). Nada de multidões, intimismo, uma proximidade afetuosa com os personagens e o espectador. E começamos a ver as histórias risonhas do homem que canta divinamente Leoncavallo (mas só no banho...), do pequeno funcionário que se torna famoso por razão nenhuma (história de absurdo com uma vírgula de moralidade na ponta) e descobre os tormentos mas também as pequenas doçuras de ser uma celebridade na terra dos paparazzi, a do jovem casal recém-casado que vem a Roma e ele e ela quase acabam a perder-se um do outro (belíssima homenagem a “O Sheik Branco”, de Fellini, com uma polpuda prostituta incarnada por Penélope Cruz, outra vénia, agora à Sophia Loren de “Matrimónio à Italiana”, numa emersão do lado cinéfilo do realizador), e por aí fora."
"Lugares-comuns? Um lugar-comum é como um banco de jardim, todos nos sentamos lá, mas só alguns é que olham com olhos de ver para quem passa. Lá está a comédia romântica com a clássica sedução triangular (ele a deixar-se envolver pela melhor amiga da mulher), uma história tão velha quanto o mundo? Sim, só que Woody Allen pontua essa história por um personagem que a comenta, numa absurda constante presença que introduz uma distanciação ridente sem ser sarcástica. A sátira é suavizada, a beleza de Roma e o amor pelos personagens derramam-se e nós embarcamos, confiados, num embalo onde tudo parece fácil, óbvio e deslizante — e o talento maior é fazer parecer que tudo está feito e pronto desde sempre."

"Vale a pena falar dos intérpretes? Vale sempre a pena tecer elogios. São todos magníficos, um passo atrás dos personagens, e assim os entregam e os olham enquanto nós olhamos tudo isso ao mesmo tempo — sempre em estado de alegria." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 22/09/2012